
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Em meio às discussões sobre os impactos da inteligência artificial (IA) no futuro do trabalho, artesãos de diversas regiões do Rio de Janeiro demonstram que a criatividade humana segue sendo um ativo valioso e insubstituível. A afirmação ganhou força na abertura da Feira Rio Artes 2025, que acontece até domingo (13) no Centro de Convenções Expomag, na capital fluminense.
A artesã Andreia Pugliese, especialista em laços e técnicas em couro, defende o poder da inventividade humana. “Contra a criatividade do ser humano, não tem para ninguém. Sempre estão renovando, inventando, o artesanato é tudo”, destacou. Já a colega Cátia Benigno, que trabalha com biscuit e pintura em tecido, vê a IA como uma aliada. “Veio para somar, não para tomar lugares. É o novo, assusta, mas não vai substituir nossa inteligência”, afirmou.
O evento reúne expositores de todo o estado e oferece oficinas e atividades ligadas à economia criativa — segmento que engloba artesanato, moda, design, artes cênicas e outras expressões culturais com potencial econômico.
Economia criativa em crescimento
Segundo levantamento do Observatório Nacional da Indústria, a economia criativa representava 3,11% do PIB nacional em 2023, com cerca de 7,4 milhões de pessoas empregadas até o fim de 2022. A expectativa é que esse número chegue a 8,4 milhões até 2030 — ou seja, um a cada quatro novos empregos será nesse setor.
Para Roberto Santos, coordenador da feira, o crescimento é impulsionado pela originalidade de quem transforma matéria-prima em produtos únicos. “A produção acontece através das mãos das pessoas. A IA pode impulsionar a economia criativa, mas não substitui o fazer manual”, afirma.
Ele também chama atenção para a importância de capacitar os artesãos para uma atuação mais sustentável e rentável. “Ensinamos como precificar, comprar insumos e embalar produtos. Muitos vendem bem, mas não sabem calcular o lucro e acabam pagando para trabalhar.”
Sustentabilidade e identidade
A feira também destaca a sustentabilidade no setor. Cíntia Miller, tesoureira da Federação do Artesanato do RJ (Faerj), apresentou criações feitas a partir de materiais recicláveis, como bolsas com câmaras de ar de pneus e miniaturas em madeira descartada. “Para a gente, tudo é matéria-prima”, afirma.
Cíntia também defende a valorização do trabalho manual frente aos avanços tecnológicos. “Acredito que a IA não afeta tanto o artesanato. A nossa luta é justamente por isso: valorizar o trabalhador manual.”
A Faerj representa cerca de 1,5 mil artesãos fluminenses e articula políticas públicas voltadas à categoria.
Política nacional em debate
Tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 2.732/2022, que institui a Política Nacional de Desenvolvimento da Economia Criativa (PNDEC). A proposta visa promover parcerias, qualificação profissional e infraestrutura para setores criativos. A justificativa do PL cita dados da Firjan que apontam o avanço do setor: de 2,09% do PIB em 2004 para 2,91% em 2020.
Com apoio de instituições como Sebrae, Senac, Sesc e a Secretaria Estadual de Cultura e Economia Criativa, a Feira Rio Artes 2025 reforça o protagonismo do artesanato em tempos de transformação digital e mostra que, diante da inteligência artificial, a arte feita à mão ainda tem muito a dizer — e a ensinar.