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O legado de Francisco: reformas, enfrentamento dos abusos e inclusão na Igreja

Primeiro papa latino-americano, Francisco deixa marca histórica ao liderar a Igreja Católica durante um período de crise e renovação profunda

Por Seridoense em 21 de abril de 2025

Foto: L’Osservatore Romano/Pool Photo via AP

Eleito em 2013 para liderar a Igreja Católica em um momento de turbulência, o Papa Francisco morreu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, deixando um legado marcado por reformas profundas, enfrentamento de crises e promoção da inclusão na estrutura eclesiástica.

Para o teólogo João Décio Passos, livre-docente em Teologia pela PUC-SP e autor da obra A igreja em saída e a casa comum: Francisco e os desafios da renovação, o pontífice foi escolhido para “reformar uma Igreja em crise, exposta a desconfianças, julgamentos”.

Naquele momento, a instituição enfrentava escândalos de abusos sexuais, denúncias de corrupção e perda de confiança de fiéis em todo o mundo. “A renúncia de Bento XVI expôs a fragilidade de um modelo tido como estável. Francisco surgiu como figura capaz de restaurar a imagem da Igreja”, explica Passos.

Segundo ele, Francisco caminhou o quanto pôde nas reformas necessárias: “Para os reformadores, ele poderia ter ido mais longe; para os conservadores, ultrapassou todos os limites imagináveis”.

Enfrentamento dos abusos sexuais

Um dos pontos mais sensíveis do seu pontificado foi o combate aos casos de abuso sexual. Desde o início, Francisco implementou políticas de “tolerância zero”, responsabilizando membros da hierarquia por omissões.

Em 2019, assinou o decreto Vos estis lux mundi, tornando obrigatória a denúncia de abusos por parte de padres e religiosos. Em 2021, reformou a legislação do Vaticano para criminalizar abusos contra adultos e punir omissões. Em 2023, essas normas se tornaram permanentes.

Em setembro de 2024, voltou ao tema afirmando: “A Igreja deve ter vergonha e pedir perdão. Tentar resolver esta situação com humildade cristã e fazer todo o possível para que não volte a acontecer”.

Cardeais das “periferias”

Francisco também descentralizou a nomeação de cardeais, favorecendo regiões menos representadas. Desde 2016, elevou representantes de países como Lesoto, Papua-Nova Guiné, Ilhas Maurício, Bangladesh e Malásia.

Essa estratégia tornou o colégio cardinalício mais diverso. “Hoje temos um quadro de cardeais muito plural. Na hora de eleger o próximo papa, não haverá unanimidade”, aponta Passos.

Durante o seu pontificado, Francisco nomeou mais de 160 cardeais. Do total de 252, há 138 aptos a votar no próximo conclave. O Brasil tem oito cardeais, sendo cinco nomeados por Francisco. Sete estão aptos a votar.

Posição sobre o aborto

Francisco manteve uma posição firme contra o aborto, chamando-o de “crime”, mas demonstrou sensibilidade ao acolher mulheres em situações difíceis.

“Não se deve esperar que a Igreja altere sua posição sobre esta questão. […] Mas é verdade também que temos feito pouco para acompanhar adequadamente as mulheres que estão em situações muito duras”, afirmou.

Uma liderança histórica

Francisco ficará na história como o primeiro papa latino-americano e um dos mais simbólicos reformadores da Igreja Católica. Seu pontificado uniu firmeza doutrinária e abertura pastoral, deixando marcas que repercutirão por gerações.


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