Viação Jardinense

Saúde & Bem Estar

Bem Estar

Relógios inteligentes: Pontuações de prontidão e saúde nos dispositivos vestíveis: até que ponto devemos confiar?

Cada vez mais populares, os índices diários fornecidos por smartwatches e anéis inteligentes prometem medir o “nível de energia” e a “recuperação” do corpo, mas especialistas alertam para limitações importantes

Por Seridoense há 2 semanas

Foto: Freepik

Em um cenário cada vez mais digitalizado, milhões de pessoas ao redor do mundo começam o dia consultando um número: sua “pontuação de prontidão”, “nível de bateria corporal” ou “grau de tensão”, fornecido por dispositivos como smartwatches ou anéis inteligentes. Esses índices, popularizados por marcas como Fitbit, Oura e Whoop, prometem condensar informações fisiológicas complexas em um único número que diz como você deve encarar o dia — com intensidade, moderação ou descanso.

Embora o conceito de simplificar dados biométricos em uma recomendação seja atraente, pesquisadores e especialistas em saúde alertam para os riscos de se confiar cegamente nessas pontuações.

O que está por trás desses números?

As chamadas pontuações compostas de saúde costumam utilizar uma variedade de sinais biométricos — como frequência cardíaca em repouso, variabilidade da frequência cardíaca (VFC), duração e qualidade do sono, nível de atividade física recente, frequência respiratória, temperatura da pele e saturação de oxigênio. Esses dados são processados por algoritmos que tentam estimar o estado geral do corpo.

Apesar de a base fisiológica ser legítima, a forma como essas variáveis são combinadas nem sempre é transparente. As empresas que desenvolvem esses algoritmos geralmente não divulgam detalhes sobre quais fatores têm maior peso, como as variáveis são interligadas ou se há ajustes para características individuais como idade, sexo e nível de condicionamento físico. Isso dificulta a avaliação da precisão ou da personalização dessas pontuações.

Problemas de precisão e interpretação

A acurácia dos sensores também é um ponto de atenção. Pequenos erros na medição da frequência cardíaca ou dos estágios do sono, por exemplo, podem influenciar significativamente o resultado final. E como os dados alimentam diretamente os algoritmos, qualquer imprecisão se acumula na pontuação do dia seguinte.

Além disso, há o chamado “duplo mergulho”: quando uma mesma condição fisiológica afeta duas variáveis diferentes — como uma noite mal dormida que reduz a VFC e altera a frequência cardíaca — e a pontuação final penaliza o usuário duas vezes por uma única causa. Isso pode criar a falsa sensação de que o corpo está em pior estado do que realmente está.

Outro ponto controverso é que, mesmo quando sinais como VFC e frequência cardíaca indicam que o corpo se recuperou bem de um esforço, algumas pontuações ainda penalizam pela atividade intensa do dia anterior, o que não condiz com o estado real de recuperação.

Falta de padronização

Embora muitos dispositivos utilizem uma média pessoal como referência — sua linha de base — para ajustar a pontuação diária, não há um padrão único. Algumas marcas utilizam sete dias de histórico, outras até 28. Algumas excluem picos ou quedas extremas, outras os mantêm. Isso não apenas dificulta comparações entre dispositivos como levanta dúvidas sobre a consistência dos resultados.

Devo parar de usar meu rastreador?

Definitivamente, não. Dispositivos vestíveis ainda podem oferecer informações úteis sobre como seu corpo responde ao estresse, ao exercício e à rotina de sono. O importante é usar esses dados como orientação, não como verdade absoluta. Mudanças de médio e longo prazo nos sinais fisiológicos podem indicar padrões relevantes para quem deseja melhorar seus hábitos ou performance.

O problema surge quando se dá um valor excessivo à pontuação diária, tratando-a como um diagnóstico médico. Ela pode ser uma bússola, mas não deve ser o timão.

Conclusão: confie no seu corpo tanto quanto confia no seu relógio. Use a tecnologia como aliada, mas não deixe que ela dite cada passo do seu dia.


CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Viação Jardinense
Viação Jardinense