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Estudo revela que 84% da população preta no Brasil já sofreu discriminação racial

Pesquisa nacional apoiada pelo Ministério da Igualdade Racial mostra impacto cotidiano do racismo e aponta mulheres pretas como as mais afetadas

Por Seridoense há 4 dias

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Uma pesquisa inédita, apoiada pelo Ministério da Igualdade Racial (MIR), revelou que 84 em cada 100 pessoas pretas no Brasil já sofreram algum tipo de discriminação racial. Os dados foram divulgados nesta terça-feira (20) e destacam as experiências de preconceito vividas por brasileiros em atividades cotidianas.

O levantamento utilizou a escala de discriminação cotidiana, na qual os participantes responderam perguntas sobre situações como ser tratado com menos gentileza ou respeito, receber atendimento inferior em estabelecimentos, ser seguido em lojas, ser alvo de assédio ou ameaças e perceber comportamentos de medo por parte de outras pessoas.

Os resultados mostram que 51,2% da população preta afirma ser tratada com menos gentileza. Quando analisada por cor/raça, a diferença é gritante: entre brancos, esse número cai para 13,9%. O padrão se repete em outras situações de discriminação:

Situação Pretos Pardos Brancos
Tratado com menos respeito 49,5% 32,1% 9,7%
Atendimento pior em lojas 57% 28,6% 7,7%
Seguido em lojas 21,3% 8,5% 8,5%

A pesquisa foi conduzida pelas organizações da sociedade civil Vital Strategies Brasil e Umane, com apoio técnico da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e do Instituto Devive. Os dados foram coletados via internet entre agosto e setembro de 2024, com 2.458 participantes, ponderados para refletir o perfil da população brasileira.

Mulheres pretas são as mais afetadas
O levantamento identificou que 72% das mulheres pretas relataram ter sofrido mais de um tipo de discriminação — a maior taxa entre os grupos analisados. Entre os homens pretos, o percentual foi de 62,1%. Já entre brancos, os números caem para 30,5% entre mulheres e 52,9% entre homens.

Para Evelyn Santos, gerente de Investimento e Impacto Social da Umane, “foi uma informação que chamou bastante a atenção”.

Desigualdade racial também impacta a saúde
Pedro de Paula, diretor da Vital Strategies Brasil, reforça que os dados evidenciam a brutal desigualdade racial presente no Brasil. “Tem um grupo que vive prioritariamente e rotineiramente com discriminação. Isso impacta em saúde mental, acesso a serviços, emprego, bem-estar e autoestima”, afirma.

Ele também destaca como o racismo afeta o sistema público de saúde, citando maior incidência de violência obstétrica, menor acesso a tratamentos e falhas no acolhimento à população negra.

Contexto maior de exclusão
O estudo se soma a outros levantamentos que demonstram a desigualdade racial no país. Segundo o Atlas da Violência 2024, pessoas negras têm 2,7 vezes mais risco de serem assassinadas do que não negras. O Censo de 2022 revelou que 72,9% dos moradores de favelas são pretos ou pardos, e a taxa de desemprego também é maior entre esses grupos.

Para os responsáveis pelo estudo, os dados devem orientar políticas públicas urgentes e específicas. “Qualquer organização que atue na área social no Brasil tem o compromisso de enfrentar essa estrutura racialmente desigual”, conclui Pedro de Paula.


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