Viação Jardinense

Internacional

Guerra civil

Presidente da Comissão da ONU relata situação crítica na Síria após visita a Damasco

Em meio a um cenário de destruição e crise econômica, Paulo Sérgio Pinheiro relata avanços tímidos na transição política da Síria e alerta para os impactos das sanções e dos ataques israelenses.

Por Seridoense há 2 semanas

Foto: Agência Brasil/REUTERS/Mohamed Azakir

Em visita recente à capital síria, Damasco, o presidente da Comissão de Inquérito da ONU sobre a Síria, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, revelou um retrato contrastante do país após mais de 13 anos de guerra civil. Segundo ele, enquanto a capital aparenta normalidade, regiões periféricas e outras cidades estão completamente devastadas.

Durante entrevista à Agência Brasil, Pinheiro destacou que, apesar da preservação urbana de Damasco, a realidade nas cidades vizinhas como Harasta, Douma, Zabadani e Daraya é de destruição e miséria. Com cerca de 90% da população síria vivendo com menos de 2 dólares por dia, o país enfrenta uma crise humanitária profunda, agravada pelas sanções econômicas impostas pelas potências ocidentais, especialmente pelos Estados Unidos.

“O futuro da Síria depende do fim dessas sanções. O país está impedido de participar do sistema bancário internacional, o que bloqueia investimentos e reconstrução”, afirmou.

Um novo governo, mas com velhos desafios

A nova administração síria, liderada por Ahmed al-Sharaa (também conhecido como al-Jolani), traz esperanças moderadas. Apesar de seu passado controverso, com vínculos com a Al-Qaeda e o Estado Islâmico, al-Jolani tem buscado um discurso mais moderado, comprometendo-se com liberdades civis e reconhecendo tratados internacionais de direitos humanos.

“Ele tem um passado complicado, mas tem feito gestos que indicam uma tentativa de mudança. Ainda é cedo, mas há sinais positivos”, declarou o comissário da ONU.

Um exemplo foi o diálogo nacional promovido em Damasco, que reuniu 800 representantes e culminou em uma declaração pró-direitos humanos. O novo gabinete inclui mulheres e representantes de diferentes grupos, o que sugere, segundo Pinheiro, uma tentativa de composição plural.

Massacre de alauítas e investigações em curso

No entanto, o cenário segue tenso. No início de março, cerca de mil civis alauítas foram massacrados na costa leste do país. Pinheiro relata que o governo sírio demorou a reagir à crise, mas formou um comitê independente para investigar os crimes. “Conversei com cinco dos membros, todos com experiência jurídica e sem vínculos com o antigo regime. A comissão parece séria, mas só o tempo dirá”, comentou.

Israel e os ataques frequentes

Outro ponto de tensão relatado é a ação militar de Israel contra alvos sírios. Segundo Pinheiro, os bombardeios israelenses, que já destruíram partes do exército sírio, continuam. “Não existe base legal para ataques preventivos só porque Israel discorda do atual governo. A comunidade internacional precisa reagir”, cobrou.

Caminho lento rumo à estabilidade

Pinheiro reconhece que o novo governo ainda não controla todo o território e enfrenta forte oposição. Além disso, com 7 milhões de refugiados e 6 milhões de deslocados internos, a realização de eleições democráticas, prometidas para os próximos cinco anos, ainda é um desafio distante.

“A Síria não se tornará uma democracia liberal e secular como nos moldes ocidentais. O importante agora é impedir retrocessos e apoiar os avanços possíveis”, concluiu.


CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Viação Jardinense
Viação Jardinense